oração

Oração: Que as palavras do meu coração saiam como gotas, e que reguem as folhas que já secaram, amém!

terça-feira, 22 de março de 2016

Poema: A voz do Poeta


Um zumbido leve com efeito de trovão
Um assobio suave que causa terremoto
Uma cantiga de amor que leva à loucura
Um vento de Outono causando maremoto

Uma explosão que se torna música aos ouvidos
Um estrondo que se confunde com o vento
Queda d’água não é mais que um ruído
Tempestade pode ser nosso alento

Uma tragédia que causa risadas
Uma serenata causando terror
Um remédio que causa doença
Insanidade pregando o amor

(Livro “Contos e Poemas - Profº Sérgio Dalate, pg. 66) (Premiado no Concurso Literário Profº Sérgio Dalate, promovido pela Universidade Federal de Mato Grosso em 2009)

Conto: Dia de Cão

Confesso que tais escritas já habitavam em meus pulsos há um bom tempo. Só agora se materializa nessas linhas. Conta-se de certo menino, o nome não vem ao caso, mas o caso, do acaso talvez, é o que figura a nossa história. O menino, sem nome aqui, encontrava-se todo empolgado com seu primeiro emprego. Ajudante de carteiro, que no fim das contas, se tornou mais um tipo de carteiro substituto, pois seu Joaquim, o carteiro oficial, não pôde ir trabalhar no primeiro dia do garoto: estava muito adoentado por conta da baita dor de barriga que também não vem ao caso: passou a noite toda no banheiro. O menino todo empolgado, queria mostrar serviço. Coisa da juventude. Morava em uma cidade pequena, interior do interior, e que também não vem ao caso. Mas o que interessa é: foi-se o garoto entregar as cartas do dia. Afinal, conhecia a cidade, que era pequena e coisa e tal, de ponta a ponta. Não haveria nenhuma dificuldade.  E a princípio não houve. Trabalhou duro no sol quente de lascar e viu que não era tão simples assim a vida de carteiro. As palmas das mãos estavam avermelhadas de tanto batê-las chamando o tal do destinatário. Alguns até apareciam. Outros nem com reza brava. No entanto, era de se esperar que o garoto não conseguisse entregar todas as correspondências. Nem seu Joaquim, que apareceu uma vez no inicio da narrativa, consegue. Mas o fato dos fatos aconteceu no fim do dia. Talvez meia hora antes de terminar o expediente. Ultima carta na bolsa do garoto para ser entregue em uma casa de determinada rua. O projeto de carteiro foi saltitante, afinal, terminaria o dia com grande desempenho por parte dele. Ao chegar à frente da casa, sua empolgação dissolveu-se na consistência do medo. Um cão esperava-o logo ao lado. Para alguns tal fato não mereça tamanha importância para dedicar-lhe uma narração. Mas isso também não vem ao caso. O garoto viu o cachorro. O cão docilmente retribuía os olhares e o rapaz tremia de medo. Ele tinha pavor desse animal, por mais amigo que parecesse ser. E então veio o dilema: bater palma ou não bater? Seu dever era bater. Mas e se o cão mudasse o humor? Quanto medo tinha de ser atacado por ele. E depois de muito debater-se, o garoto bateu umas palmas tímidas, forçadas até. E o cão docilmente olhava o rapaz. Pareceu sorrir. Abanou o rabinho demonstrando felicidade. Nem assim o garoto diminuiu a tensão. Ninguém foi atendê-lo. Precisava aproximar-se mais de perto da casa para ter a certeza de não haver ninguém lá dentro. Começou a chamar o cão de todos os nomes amigáveis que só são ditos ao camarada mais chegado, do tipo "amigão", "companheiro" e afins, e usou adjetivos e substantivos no seu grau diminutivo como forma de carinho, do tipo "cãozinho", "amiguinho", "seja bonzinho". E o cão não se moveu um centímetro. Continuava olhando-o docilmente. E o garoto em passos mínimos foi chegando cada vez mais perto da porta da casa, e quando já conseguia tocá-la, começou a batê-la. Ninguém. Não havia outra saída: mais uma carta sem entregar. Era o fim do expediente. Precisava ir embora. O garoto olhou o cão, que olhava o garoto com muita ternura. O rapaz concluiu que, afinal, seu medo por cachorros era infundado. Eles podiam ser amáveis, como aquele alí, tão dócil e inofensivo. Virou-se aliviado por nada de mal ter-lhe acontecido. Bastou virar, veio o cão e mordeu-lhe o calcanhar e lá foi o garoto correndo pelas ruas da pequena cidade, chorando como criança que era. E nunca mais quis ele saber desse seu primeiro emprego. É, as vezes os mais dóceis são os mais perigosos, mas isso não vem ao caso.

Conto: Presságio

A última coisa que me vem na memória é a dor aguda da pancada que recebi em minha cabeça. Depois tudo ficou negro e sombrio como a noite. Tinha acordado mais cedo. Eram seis e dez da manhã. O relógio despertaria vinte minutos depois, seis e trinta, mas por algum motivo senti que deveria sair mais cedo daquela cama. O sol estava nascendo. Levantei lentamente, calcei minha havaiana, e caminhei até o banheiro, ainda sonolento. Parei em frente ao espelho. Encarei a minha imagem e fiquei parado por alguns minutos. De repente tive a impressão de um vulto passar por mim. Minha espinha gelou. Virei-me em uma ação instantânea, mas nada vi. Olhei novamente para a minha imagem refletida no espelho. Fechei os olhos com força e os abri. “É o sono. Só pode ser”, pensei. Escovei meus dentes tentando focar meu pensamento em algo que fizesse amenizar a sensação que me invadia: algo estranho, uma mistura de insegurança e pavor. “Devo estar doente. Preciso trabalhar”.

Vesti o uniforme de trabalho: o primeiro terno que encontrei pela frente. Tentei comer um pedaço de pão seco, mas não tinha apetite. Meu celular tocou. Era a primeira cliente do dia avisando que estava indo com o marido ver o imóvel. Eu disse para me esperarem lá, que chegaria em meia hora. Desliguei o telefone e o coloquei na bancada. Ele começou a vibrar. Estranhei, pois não o tinha colocado no silencioso. Atendi. A linha estava muda. Eu disse vários “alôs”, mas não obtive nenhuma resposta. Foi quando senti um toque em meu ombro e me virei. Não havia ninguém. O telefone começou a chiar, e de repente ouvi um som estranho do outro lado: parecia um miado de gato. Mas não um miado qualquer. Era um som aterrador. Deixei o telefone cair com o susto e a campainha tocou. Corri até a porta. Vi por baixo dela uma sombra se movimentando. A campainha tocou novamente. Devia ser alguém procurando meus serviços de corretor. Destravei a porta e a abri. Não tinha ninguém lá. Senti imenso calafrio. Não sabia o que estava acontecendo. Dei um passo à frente e a porta se fechou atrás de mim. Virei-me rapidamente e tentei abri-la desesperadamente quando senti o choque de algum objeto pontiagudo sendo arremessado em minha cabeça. O sangue escorreu, caí no chão e tudo se escureceu.

Abri meus olhos. Era noite. Meus braços e pernas estavam amarrados e minha boca amordaçada. Tinha sido seqüestrado. A cabeça doía pela pancada, e as mãos começavam a sangrar com as cordas apertadas. Tentei levantar em vão. Foi então que percebi que estava em cima de uma lápide. Por todos os lugares em que minha visão alcançava, via lápides, cruzes, velas ainda acesas. O medo alcançou um nível em que eu nunca tinha experimentado. O desespero me fez relutar contra as cordas que me prendiam. Precisava sair dalí rapidamente. Foi então que vi um caco de uma garrafa quebrada a duas lápides de onde eu estava. Arrastei-me até lá. Peguei o caco com um das mãos e comecei cortar a corda. Minha mão sangrava, pois o caco também a cortava, mas o desespero em sair daquele pesadelo era maior que a dor.

Alguns minutos depois eu estava livre. Arremessei a corda na lapide e comecei a correr e gritar por socorro. Por mais que eu tentasse fugir, aquele cemitério parecia não ter fim. Foi então que tropecei em algo e caí no chão. Fechei meus olhos quando senti algo subir por minhas pernas. Ouvi um miado suave. Abri meus olhos e o vi: um gato de pelos tão negros que ele quase sumia com a noite. O animal deitou em meu colo. Meus olhos se fixaram no bichano, e uma curiosidade me invadiu, dividindo lugar com o pavor. O gato me olhou intensamente. Seu miado se calou. De repente seus pelos enrijeceram, suas garras afiadas cravaram em minhas pernas, seus olhos medonhos ficaram vermelhos e ele emitiu o mesmo som que eu tinha ouvido no meu celular de manhã. Arremessei o gato para longe, levantei rapidamente e sai correndo em busca de uma saída. Vi uma casinha simples, no meio do cemitério. Talvez houvesse alguém lá. Corri em direção a ela. Entrei. Apenas um lampião alumiava seu interior. “alguém aqui?” perguntei, e nada. Vi um papel em cima de uma mesa no centro da sala. Aproximei-me. No papel estava escrito o meu nome. “precisa de ajuda?”. Assustei-me com aquela voz e deparei-me com uma figura me observando na porta de saída da casa. Era o coveiro: senhor já de idade avançada. “Por favor, me ajude sair daqui” eu disse. Ele deu um passo em minha direção e eu retrocedi. “O que houve com você meu rapaz? Parece assustado!”. O velho colocou uma lanterna na mesa e sentou-se em uma cadeira de fio perto da mesa. “Sente-se jovem. Vamos conversar” ele disse. “Onde é a saída?” perguntei. Meu coração não desacelerava em nenhum instante. “Não pode sair por aí sozinho. É muito perigoso. Não queira saber o que acontece lá fora” o velho fez uma pausa, tirou um maço de cigarros, pôs um na boca, pegou o isqueiro no bolso e o acendeu. “Mas me conte: como veio parar aqui?” perguntou. “Eu não sei” eu disse ainda apavorado... “Está tudo muito estranho”, completei. “Coisas estranhas acontecem”, ele disse, tirou o cigarro da boca e assoprou a fumaça lentamente. De repente, uma sombra negra surgiu de fora da casa e parou nas pernas do coveiro: era o gato. Assustado, eu quis sair de lá. “Calma meu rapaz. É só um gato. Indefeso e inofensivo”, disse o coveiro. O bichano passava por entre as pernas do velho, que acariciava seus pelos negros. De repente o velho parou, olhou-me e disse: “e esse seu amigo aí do seu lado... não sabe falar?”. Meus pelos enrijeceram e meu músculo se contorceu. Virei-me lentamente para ver de quem o velho falava, quando comecei a perceber a figura distorcida de uma pessoa que a poucos instantes não estava lá. De repente a pessoa também começou a se virar para ficar de frente a mim, e não acreditei quando vi o seu rosto: era minha cópia e semelhança. Era outro eu. Afastei-me dele e vi em suas mãos um machado sujo, enferrujado. O velho levantou da cadeira e disse: “jovem, é agora!”. O outro do meu lado levantou o machado e cravou-o em meu crânio. O sangue jorrou.



Abri os olhos. Eu estava deitado na cama. Acordei assustado. Não tinha amanhecido. Era seis e dez, e o relógio despertaria vinte minutos depois, mas por algum motivo precisava levantar.

Conto: O Remetente

Era o ano de 1969, período de comemorações de fim de ano, com as tradicionais reuniões familiares. Sherlock Holmes desembarcara no Brasil numa manhã fria de Dezembro, sabe se lá qual dia da semana. Seu Portunglês enrolado era compreensível, o que facilitava na comunicação. Holmes tinha seus quinze ou dezesseis anos, mas já respirava ares de detetive. O motivo de sua visitação era um só: solucionar um mistério que percorria em um crime cometido no Botafogo. Holmes mal pisou nas terras cariocas e foi logo atrás dos fatos, pois não podia demorar-se muito no Brasil. Deixou coisas a se resolverem em Londres. Encontrou-se com o delegado Almeida, responsável pelo caso, na Delegacia Policial de Botafogo. O delegado contou-lhe os pormenores do caso. Era de um certo Vilela, que abriu uma banca de advogado ali pelas proximidades. Homem de muito prestígio, descobriu que sua esposa Rita mantinha um caso com seu grande amigo de infância Camilo. Vilela, possuído pela fúria, matou-os à queima roupa.

—Se já sabem quem é o assassino, o que estou fazendo aqui? Não há nada para se resolver nesse caso. – disse Holmes, ainda que jovem, impaciente.

—Engano seu, meu caro. – Falou Almeida pegando um saco plástico de dentro da gaveta de sua escrivaninha – há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa vã filosofia.

—Citando Shakespeare agora?

—Sim, meu caro. Pelo simples motivo de que existe um enigma escondido por trás desse crime.

O delegado despejou de dentro do saco vários papéis.

—O que é isso? – questionou Holmes.

—O nosso enigma. – respondeu o delegado. Essas são algumas cartas que Camilo, nossa vítima, recebeu dias antes de ser assassinado.

—E?

—As cartas ameaçavam revelar a Vilela a traição de Camilo e Rita. Mas o intrigante é que não sabemos quem escreveu essas cartas.

Almeida continuou dizendo que Vilela desapareceu, que ninguém tinha notícias dele desde o assassinato, que precisavam concluir as investigações logo, que o remetente das cartas, de certo modo, era o responsável pela tragédia , que descobrir o misterioso remetente das cartas era necessário para que um ponto final fosse colocado naquele conto, pois cá entre nós, a vida é um conto.

—E minha tarefa é descobrir a identidade de quem escreveu as cartas? – perguntou mais uma vez o jovem detetive londrino, que parecia não acreditar na missão que fizera-o vir de tão longe.

—Sim, exatamente essa! – respondeu Almeida.

—Tenho certeza que foi a cartomante. – resmungou um dos peritos que estava presente na sala. Holmes nem tinha percebido a presença dele até esse momento.

—Que cartomante? – perguntou Sherlock.

—Já ia me esquecendo. – disse o delegado Almeida. Há uma cartomante no meio disso tudo.

E Almeida tentou sintetizar: Camilo se encontrou com uma cartomante, indicada por Rita dias antes, antes de ir para a casa de Vilela, onde foi morto. O tal perito tinha a seguinte versão dos fatos – mais hipótese que fato:

Rita era muito supersticiosa. Cria em certas coisas que a mãe lhe ensinara desde criança. Sabia que os mistérios da vida se escondiam por trás do inexplicável – questões, aliás que nem compensa buscar explicação. A pobre coitada, vivendo o mal do amor proibido, temeu estar perdendo o amante Camilo, outra vítima – até que se prove o contrário – dessa história.  Em um ato inconseqüente – um pouco por causa da crença que já foi dita, procurou uma cartomante na Rua da Guarda Velha. Cartomante, aliás, que ela mal conhecia – bastava ser cartomante e já bastava. A coitada revelou mais do que deveria para a trambiqueira – ressaltando que essa é apenas a versão do perito. A velha – outro adjetivo que o formulador da hipótese aqui apresentada deu para a mulher que lia cartas, lia mãos e sei lá mais o que – logo soube que Rita vivia uma vida tranqüila, com bens financeiros inestimáveis, afinal, o marido tinha uma banca de advogado. A pobre Rita não imaginava que a cartomante arquitetava um plano maligno contra os enamorados. Tratou de descobrir onde Camilo morava e começou a escrever as cartas ameaçadoras. Ela ameaçava contar tudo para Vilela. A velha trambiqueira - a cartomante, é claro, tinha o diabo no couro, isso sim: queria ver uma tragédia acontecer em Botafogo.

—Eu não acho – disse Almeida. Tenho quase certeza que tudo foi uma armação de Vilela desde o início.

O delegado começou expor a sua versão, contrariando a do perito que já foi apresentada.

Eis que Vilela e Camilo eram grandes amigos. Os dois, apaixonados por uma mesma mulher: Rita. Essa, casada com o primeiro, mantinha um caso extraconjugal com o segundo. Está certo que Vilela era um tonto por natureza, mas nenhum tonto permanece nessa condição por toda a vida. Não tardou e o marido traído começou a ouvir os cochichos da sociedade carioca acerca da possível traição. É claro que ele negou-se a acreditar. Mas por via das dúvidas, precisava arquitetar um plano para que Camilo parasse de ir em sua casa quando ele estivesse ausente. Começou a escrever as cartas, sem supor sequer que a traição mencionada nos papéis por ele escritos era verdadeira. Atirou no escuro. Camilo parou de ir a sua casa. No entanto, o tiro saiu pela culatra. Rita não parava mais em casa. Um dia o tonto deixou de ser tonto e arrancou a confissão da esposa. Na fúria, matou-a e também ao amante.

—Muito fantasiosa essa versão... – deduziu Holmes.

—E por que não haveria de ser a verdade? – questionou o delegado. Tudo pode acontecer, não é mesmo?

Holmes logo soube da versão da própria vítima, o Camilo. Este suspeitava de que alguém alimentava um amor em segredo por Rita. O pobre enamorado não-correspondido amava muito a moça, e ao descobrir o relacionamento proibido entre Rita e Camilo, começou arder-se em ciúmes. Certamente era um conhecido de Vilela, e depois de muito ameaçar os amantes e não encontrar resultado, denunciou a traição ao marido de Rita, e aconteceu o que aconteceu.

—É possível. – disse Sherlock.

E veio a versão, que para Holmes era a mais pertinente. Quem a formulou foi o próprio delegado. Pelo visto, ele era cheio de versões: Quando Camilo recebeu a primeira carta, ele parou de ir à casa de Vilela. Foi então que começou a se encontrar com Rita escondido, na casa de uma comprovinciana da moça, na rua dos Barbonos. Então, tudo indicava que quem escrevera a carta e denunciara os dois à Vilela fora essa tal comprovinciana. Talvez essa amasse Camilo, ou Vilela.

—Faz sentido. – comentou Holmes, que passou a tarde toda ouvindo várias outras versões. Ele anotou em uma agenda o nome de todos os suspeitos de escrever a carta: Vilela, a cartomante, o apaixonado desiludido, a comprovinciana, a vizinha moralista e mal humorada, os paparazzi, e milhares de outros nomes compunham a lista. No outro dia, bem de manhãzinha, Sherlock Holmes começou a investigação de fato. Passou pela Rua da guarda velha, falou com a cartomante – mulher sinistra, diga-se de passagem, passou pela casa de Vilela – onde aconteceu o crime, observou cada perímetro, as marcações, procurou por prova. Depois foi a muitos outros lugares. Disse que até no fim do dia o mistério estaria solucionado. Foi então que em um surto, teve a dedução certeira, e foi até as instalações do Diário do Rio de Janeiro, e encontrou a resposta que buscava. Como já dizia a sua reputação, Holmes tinha deduções certeiras.

Voltou quase à noitinha para a delegacia, e se encontrou com o delegado e a equipe de peritos, que já o esperavam.

—Resolvi o caso. – Gabou-se Holmes.

—Mas já? – Almeida ficou impressionado.

—Elementar meu caro Almeida. Foi um caso simples de se resolver. Encontrei a resposta no Diário do Rio de Janeiro. Lá trabalha um repórter e jornalista muito próximo das vítimas, quase um pai, eu diria, e que tinha conhecimento de tudo o que acontecia com o triângulo amoroso. Foi ele quem escreveu as cartas e armou tudo para que Vilela descobrisse a traição.

—Quem é esse? – perguntaram todos, curiosos.

—Machado de Assis, conhecem? – perguntou Holmes.

—Já ouvi falar dele. – comentou Almeida.

—Encontrei a seguinte prova do crime: um conto, cujo título é “a cartomante”, que narra todos os fatos que já sabemos, e pelo qual ele assina seu nome no final, pode? Confessou a própria culpa!- disse Holmes.

—Então tudo se esclarece... Agora resta-nos saber onde está Vilela... – falou Almeida.

—Essa já é uma outra história. – falou Sherlock. Algo me faz suspeitar que Machado de Assis está escondendo o dito cujo na casa verde, um hospício fundado por Simão Bacamarte, um outro conhecido próximo, quase outro filho do jornalista. Mas são só suposições.

—compreendo!

E tudo ficou por isso mesmo: Sherlock Holmes voltou para Londres, Almeida continuou no Botafogo, Machado de Assis continuou no Diário do Rio de Janeiro, e nunca mais se soube de Vilela, que continua desaparecido até hoje.